Idealizador do Coral Diversidade, o Comendador Fábio Gottschild fala sobre os desafios da produção artística LGBTQ+ no Brasil, os anos de glória do grupo e a luta constante por estrutura e reconhecimento
Por Paula Castro da Costa
Edição Jessica Ribeiro
Num país onde a arte muitas vezes depende mais da paixão do que de políticas públicas, projetos culturais de viés social enfrentam diariamente o risco da invisibilidade.
O Coral Diversidade, criado em 2014 por Fábio Gottschild, é um desses exemplos. Nascido como Coral Gay de Curitiba, o grupo vocal surgiu com a proposta ousada de unir arte, militância e inclusão em um espaço ainda repleto de barreiras – o meio musical.
“Como forma de facilitar o acesso e driblar os custos com instrumentos, pensei: a voz é gratuita, é livre. Foi daí que nasceu o coral”, explica Fábio, músico, regente, professor e membro de quatro academias nacionais de música e história. A escolha pelo canto a capella foi, além de estratégica, simbólica: transformar o corpo – tão historicamente marginalizado – em instrumento de arte.
A primeira apresentação aconteceu em 2015, na Igreja Anglicana de Curitiba, que à época cedia espaço para os ensaios. De lá para cá, o grupo cresceu, emocionou plateias e marcou presença em eventos emblemáticos, como as paradas da diversidade na capital paranaense.

Devido a burocratização das leis de incentivo à cultura, e a falta de interesses do setor público e privado, em facilitar a ocupação de espaços para artistas e grupos independentes, acaba desmotivando a classe e limitando o desenvolvimento de novos projetos. Com o Coral Diversidade não é diferente, desde a criação do coro em 2014, Fábio Gottschild, regente e diretor do grupo, vem enfrentando dificuldades para manter o grupo ativo, a falta de liberação para utilização de espaços públicos para os seus ensaios, prejudica imensamente o calendário de apresentações e a qualidade do desenvolvimento dos artistas.
“A Era de Ouro do Rádio”
O auge veio em 2016, com o espetáculo “A Era de Ouro do Rádio”, uma homenagem ao rádio brasileiro encenada no tradicional Teatro do Paiol – antigo abrigo de pólvora que se tornou símbolo cultural e histórico da cidade.
Neste espetáculo, o grupo trouxe um vasto repertório popular da música brasileira, também com muita história e atuação, relembrando a grandiosa história do rádio no Brasil. O sucesso foi tanto que eles se apresentaram nos anos seguintes em novos locais com a mesma montagem.
Mas o brilho artístico não se restringiu ao palco, nessa época o Coral Diversidade esteve participando ativamente com apresentações em grandes eventos na cidade, como a Parada Gay e a Parada da Diversidade, os quais possuem cunho militante em favor da comunidade LGBTQ+.
A atuação engajada do coral também reverberou fora do país, com reportagens em revistas e jornais nacionais e internacionais. “O retorno da mídia foi impressionante. Percebemos que estávamos fazendo barulho – no melhor sentido da palavra”, comenta Fábio.

Pandemia
Durante a pandemia, os ensaios foram suspensos e o grupo entrou em recesso. O retorno, em 2022, trouxe mudanças, com um novo nome, o Coral Diversidade reabriu as portas para receber novos integrantes, trazendo novas carinhas para dentro do projeto.
“Quando se chamava Coral Gay de Curitiba, o interesse se restringia majoritariamente a homens. Com o novo nome, houve maior adesão do público feminino. A mudança foi importante para refletir o real propósito do grupo: ser inclusivo”, pontua o idealizador.
Coral Diversidade hoje
Hoje, o Coral opera com menos integrantes, mas com ambição artística inabalável.
Em outubro de 2024, o coro surpreendeu o público com suas novas performances, trazendo músicas autorais para um espetáculo de teatro. A peça experimental “Intrínseco” ganhou a plateia unindo poesia, artes cênicas, visuais, e muita música. O sucesso da produção já rendeu convites para novas parcerias em 2025.
Atualmente, os ensaios ocorrem na sede do Grupo Dignidade, ONG curitibana voltada à população LGBTQ+. O espaço, apesar de acolhedor, não atende completamente às demandas do Coral. “É um local com apenas uma sala, disputada por diversos projetos. Muitas vezes, não conseguimos ensaiar”, revela.
A falta de incentivo — seja ele público ou privado — segue sendo o maior obstáculo para a continuidade do Coral Diversidade. Para 2025, Fábio pretende buscar um novo local de ensaios, mais acessível e estruturado.
Mas, como quem já superou muitas portas fechadas, não perde a esperança: “enquanto houver voz, haverá resistência”.
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