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Professores: Bibliorias e Livrotecas

Bibliorias e Livrotecas

Como sonhar não paga imposto, não custa imaginar novos mundos, universos utópicos, soluções fantásticas, situações melhores. Não custa criar um mundo paralelo, em que haveria mais livrarias do que farmácias e mais bibliotecas do que bares.

 

Só para efeito de estranheza (os sonhos têm sempre uma pitada de surrealismo), transformemos os nomes. As novas livrarias serão livrotecas. As novas bibliotecas vão se chamar bibliorias.

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Haverá uma livroteca em cada esquina. O sufixo -teca remete ao grego theke, no sentido de “caixa”, “depósito”, “local de armazenamento”.

 

Na livroteca, os livros estão guardados, mas não estão presos. Encontram-se disponíveis para nos libertar. E são livros que não podemos deixar de ler. Ler é tão vital quanto comer e beber.

 

Você sai logo cedo da sua casa. Passa numa livroteca. Pede um conto ao ponto e um gole de poesia (com açúcar ou sem açúcar?). Cinco versos matam a sede do cidadão. Um conto (não precisa ser gigante nem pesado) mata a nossa fome matutina. Misturar prosa e poesia é nutritivo. Os professores recomendam alimentação reforçada e variada logo no início do dia. Faz bem para a mente e mais ainda para o corpo.

 

Há quem goste de proesia. Na livroteca mais próxima, você pode pedir um sanduíche feito de duas fatias prosaicas e um conteúdo rimático. Há poemas quase em tom de prosa ou manifesto, como na estrofe final de um poema de Affonso Romano de Sant’Anna, publicado em 1985:

 

Não está nada fácil ser poeta nestes dias.
Não está nada fácil ser poeta noite e dia.
Não está nada fácil ser poeta da alegria.
Não,
Não está nada fácil ser poeta
e brasileiro
nestes dias.

 

O poema chama-se “Sobre certas dificuldades atuais”. Atuais? Atualíssimas!

 

As Bibliorias da Cidade

 

Nesse mundo para além do tempo e do espaço, que nasce da arte de sonhar acordado, as livrarias antigas fecharam.

 

E surgiram as bibliorias, com novas propostas e respostas.

 

Bibliorias, para começar, têm um bibleiro ali muito bem informado. Ele gosta de experimentar um pouco de tudo: dicionários e diários, antologias e tratados, manuais e confissões, bíblias de todas as religiões, memórias, histórias (até mesmo as simplórias), livros de oratória, com ou sem dedicatória. Converse com ele.

 

Fale de suas dúvidas e curiosidades. Há doses de fantasia e verdade para curar todos os problemas.

 

Reserve um tempo para conhecer as bibliorias da sua cidade. Em cada quarteirão, você encontrará três, quatro, cinco bibliorias.

 

Com diferentes perfis para os diferentes clientes e públicos: infantis e senis, juvenis e adultis…



Há, por exemplo, a biblioria feita na medida certa para deprimidos e melancólicos. Nela, logo na entrada, autores que tratam os temas da dor e da solidão sem medo de encarar a realidade. Kafka é um dos melhores remédios para a falta de sentido. A metamorfose não é uma imagem apenas. E tem um poema de Mario Quintana (adquira-o completo na biblioria mais próxima), que é assim:

 

Não tenho vergonha de dizer que estou triste,
Não dessa tristeza ignominiosa dos que, em vez
de se matarem, fazem poemas:
Estou triste por que vocês são burros e feios
E não morrem nunca…
Minha alma assenta-se no cordão da caçada
E chora,
Olhando as poças barrentas que a chuva deixou.
Eu sigo adiante. Misturo-me a vocês. Acho vocês
uns amores.
Na minha cara há um vasto sorriso pintado a
vermelhão.
E trocamos brindes,
Acreditamos em tudo o que vem nos jornais.
Somos democratas e escravocratas.
Nossas almas? Sei lá!

 

A alma do negócio

 

Alguns geniais empreendedores uniram biblioria e livroteca num só lugar. Para alimentar e cuidar da nossa alma. O negócio funciona às mil maravilhas nesse país que estou criando. Livro é um negócio que sempre se renova. Porque o livro é que é a alma disso.

 

E você pode pagar com seus livros já lidos os livros novos que você quiser comprar na biblioria. Os livros usados (pode ser com anotações nas margens) irão enriquecer o acervo da livroteca, para alimentar os que têm fome e sede de entrelinhas. Livro não tem prazo de validade. Não apodrece. O livro pula de alma para alma.

 

Há outros serviços e possibilidades nesse negócio. Contadores de histórias em diversas horas do dia. Especialistas em biblioterapia para atender leitores pacientes, ou nem tão pacientes. Consultores que oferecem a escritores orientações inventivas.

 

Grupos de discussão sobre leituras e interpretações. Jogos que misturam lazer e prazer de ler. Exposições pessoais de livros raros. Saraus temáticos. Grupos de interajuda para pessoas que não conseguem se libertar do vício da leitura…

 

E, dentro deste negócio, um espaço imprescindível. Um espaço docente permanente, em que os professores têm acesso a todos os livros para suas pesquisas.

 

Na livroteca, professores leem à vontade. Na biblioria, professor e professora não pagam!



Coluna de Gabriel Perissé

 

Fonte: Revista Educação

 

Blog Estude Sem Fronteiras

Júlia Cintra Terra

Graduada em Filosofia pela Universidade Federal de São João Del-Rei e Letras pelo Centro Universitário Barão de Mauá. Pós-Graduada em Ensino de Filosofia pela Universidade Federal de São João Del-Rei. Experiência como Educadora no Sistema de Educação Básico e Superior, nas áreas de Filosofia e Língua Portuguesa. Atua como Professora/Tutora da Graduação e Pós-graduação da Faculdade Metropolitana do Estado de São Paulo e da Faculdade de Tecnologia, Ciências e Educação - FATECE.

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