No começo dos anos 2000, o cientista Gordon Bell, da Microsoft, iniciou um projeto ambicioso: criar um arquivo digital de todas as suas interações com o mundo da Tecnologia.
Assim, carregou durante anos uma pequena câmera pendurada no pescoço, a SenseCam.
Equipado com sensores que detectavam mudanças de luminosidade ou a presença de uma pessoa próxima, o dispositivo era capaz de tirar fotos e gravar vídeos automaticamente.
Registrou conversas, passeios, todos os sites que visitou na internet, os documentos em que trabalhava, todo e-mail que enviava.
O GPS rastreava continuamente sua localização, permitindo a criação de diários visuais de viagens.
Batizada de MyLifeBits, a extrema empreitada de Bell já não soa tão excêntrica nos dias de hoje, mais de uma década depois.
Temos à mão hardwares portáteis para registrar imagens e dados quando quisermos.
Muitos de nós já nem lembram direito o próprio número de telefone, e as redes sociais cada vez mais ajudam a lembrar de eventos e aniversários.
Estaríamos mais esquecidos ou simplesmente não memorizamos dados que podemos conseguir com facilidade?
Basicamente, qualquer informação está acessível para quem está conectado à internet.
Não por acaso, sites de busca, como o Google, começaram a preocupar professores, ao menos os mais tradicionais – afinal, do que adianta um aluno copiar, colar e depois esquecer o assunto que pesquisou?
Recentemente, profissionais de diversas áreas, inclusive das neurociências, passaram a questionar os efeitos da internet no estudo e na memória, conferindo novas dimensões ao debate.
A preocupação central está na subutilização da memória, que, como um músculo, funciona melhor quando exercitada.
Estariam as facilidades tecnológicas afetando seu desempenho?
Técnicas de memorização
Incomodado com a sensação de esquecer várias coisas e com o hábito de usar post-its de forma obcecada, o jornalista americano Joshua Foer decidiu exercitar sua memória.
Aprendeu uma técnica antiga chamada Palácio da Memória, que consiste basicamente em visualizar um local que se conhece bem – como a casa da infância – e colocar uma imagem visual, de preferência inusitada, em lugares específicos, de forma que ajudem a lembrar itens de uma lista.
Por exemplo, o leite de uma lista de supermercado pode ser memorizada como uma vaca colorida em algum local da casa.
Graças à técnica, Foer foi campeão de memória dos Estados Unidos em 2006, depois de um ano de treinamento.
Nesse tipo de campeonato, os participantes realizam proezas como memorizar dezenas de nomes, a sequência de cartas em um baralho ou um número de 100 dígitos em poucos minutos.
O jornalista conta sua experiência no livro A arte e a ciência de memorizar tudo (editora Nova Fronteira, 2012), no qual faz um panorama histórico da chamada arte da memória e do conhecimento que a neurociência já acumula sobre o assunto.
Seriam os exercícios de memória – tema, aliás, que sustenta todo um mercado de publicações e cursos on-line – a solução para a amnésia contemporânea?
Aparentemente não, pois, mesmo depois de se sagrar campeão, Foer saiu com os amigos e voltou de metrô, esquecendo que tinha ido de carro.
No dia a dia, voltou a usar post-it e a recorrer à internet para se lembrar de informações.
Descobriu que sua memória não mudou apenas com o uso de uma técnica específica.
Esquecer, porém, não é necessariamente um problema.
“Esquecer e lembrar fazem parte do mesmo processo. Não há como arquivar todas as informações no cérebro, por isso é preciso selecionar”, diz o neurocientista André Frazão, coordenador do Laboratório de Cognição da Universidade de São Paulo (USP).
“O problema é que queremos lembrar de tudo e reclamamos quando não conseguimos.”
Mas por que nos esquecemos de uma informação importante? A falha, nesse caso, não está na memória em si, mas na estratégia usada para registrar a informação.
“Por exemplo, no estacionamento de um shopping, não adianta nada lembrar a cor do carro do lado. Na realidade, quando esquecemos de algo, é provável que nunca tenhamos registrado de fato a informação”, ressalta Frazão.
Da mesma forma que o carro na garagem, que pode ser localizado pelo setor do estacionamento, as lembranças também possuem pistas para a sua localização.
Elas são as chamadas associações. Por exemplo, será mais fácil lembrar o tal setor se você perceber que a letra é a inicial de um grande amigo e o número, o primeiro dígito da sua idade.
“Lembrar não significa arquivar informações automaticamente, mas construir uma teia de conceitos e dar valor a essas informações”, explica o neurocientista.
A memória, nesse processo, é apenas um dos fenômenos por trás da lembrança.
“Além dela, também são importantes a atenção, as emoções e a percepção”, diz Hamilton Haddad, professor do Departamento de Fisiologia do Instituto de Biociências da USP.
A própria memória não é uma só, podendo ser dividida em vários tipos. Em uma competição de memória, é usada a memória declarativa.
Temos também a implícita, que é a memória de coisas que sabemos fazer, mas não sabemos explicar.
Aprender X Decorar
Mas, se vencer um campeonato ou lembrar onde o carro ficou estacionado tem uma função óbvia, o que promove a memória no caso do aprendizado?
“Uma das motivações fundamentais pode ser o prazer da descoberta, graças ao poder explicativo da ciência”, afirma Frazão.
Conforme o conhecimento se acumula, uma das dificuldades pode ser abrir mão do antigo para investir em coisas novas.
“O conteúdo do ensino já está muito avançado, por isso a escola deveria dedicar uma parte do tempo a se debruçar sobre problemas novos, como a neurociência ou a violência nas cidades”, diz o neurocientista.
Sair da decoreba para preconizar o aprendizado significativo pode implicar para alguns, no entanto, mudanças no cumprimento do currículo escolar.
“Quando a escola deixa de focar a quantidade, dá para ensinar de forma vivenciada através de experimentos e leitura crítica, o que ajuda a formar memórias de longo prazo”, diz Sérgio Américo Boggio, diretor de tecnologia aplicada à educação do Colégio Bandeirantes, em São Paulo.
O aprendizado significativo funciona porque ajuda a criar novas associações, assim como a usar o conhecimento prévio do aluno, uma ideia amplamente difundida na pedagogia construtivista.
“A memória é construída em redes e se vale de informações anteriores. É mais fácil aprender o que é mexerica quando já se conhece a laranja. Mas a informação arquivada precisa ser interpretada. Lembrar é um processo ativo em que a memória ativa o córtex visual e gera padrão semelhante ao da visão”, pontua Frazão.
Por essa razão, relacionar o conteúdo com a própria vida ou a própria experiência ajuda a lembrar o que foi aprendido.
Entre o antigo e o novo
Outro fator importante na memória é o lado emocional.
O aluno leva para a escola as suas concepções infantis do mundo e aos poucos vai questionando a validade delas e formando novas concepções.
O problema é que, geralmente, crianças têm um grande vínculo afetivo com as concepções anteriores, porque, até ali, elas foram suficientes para explicar o mundo.
Por que então deixá-las para trás e adotar outras visões?
Essa resposta tem muito a ver com a atuação do professor, que funciona como uma ponte entre o antigo e o novo.
Quando o professor demonstra interesse e afeto pelas crianças, elas se sentem mais confortáveis para ouvir o que ele tem a dizer.
Quando ele explica de maneira clara o conteúdo, elas se sentem mais atraídas para deixar o antigo para trás e adotar o novo.
Tudo isso não significa, no entanto, que métodos antigos tenham perdido a validade.
A repetição também ajuda na memorização, sendo fundamental em alguns casos, como no aprendizado de línguas estrangeiras.
E novos estudos demonstraram que as provas continuam sendo ferramentas importantes não só na avaliação, mas também no aprendizado.
“Os testes, sejam para avaliação ou simplesmente para revisar o conteúdo, são uma forma mais eficiente de aprender do que simplesmente estudar”, afirma Luciano Buratto, neurocientista da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Além disso, estudos mostram que a prática espaçada como estudar menos, mas em intervalos de tempo maiores, e escalonar o conteúdo, ou seja, fazendo uma revisão de tópicos antigos, também ajuda na assimilação do conteúdo.
Criatividade
Estratégias de estudo são um ponto-chave também para lidar com as novas tecnologias.
Grande parte dos alunos não sabe como identificar as informações confiáveis no Google.
“Da mesma forma como antes o aluno precisava comparar diversos autores, hoje também é necessário comparar fontes e verificar a compreensão do que foi lido”, diz Célia Sampaio, diretora do Mater Dei, em São Paulo.
“O processo de aprendizado permanece fundamentalmente o mesmo, só que hoje é mais rápido. Por mais incrível que a internet seja, ela nunca criou nada de novo. Para isso, é necessária uma mente humana”, destaca Célia.
Por outro lado, é difícil acompanhar a evolução da tecnologia.
“Em geral, ela é subutilizada, já que pode oferecer condições para outro tipo de ensino e de aprendizagem. A questão que se coloca é: como usar essa tecnologia para formar um cidadão mais crítico, criativo e mais participativo?”, questiona Alvaro Chrispino, diretor de gestão estratégica do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet) Celso Suckow da Fonseca, no Rio de Janeiro.
“Longe de inibir, a tecnologia estimula o exercício da memória e o desenvolvimento do aluno. O importante é saber usá-la”, diz o neurocientista Ivan Izquierdo, da PUCRS, um dos maiores especialistas em memória do mundo.
Fonte: Revista Educação

Doutorando em Engenharia de Software pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) desenvolvendo pesquisas na área de Teste de Software com ênfase em Teste de Mutação, cujo objetivo é identificar e aplicar técnicas de teste para viabilizar sua utilização.
Mestre em Engenharia de Software pela Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho (UNESP) desenvolvendo pesquisa na área de Processos de Desenvolvimento de Software, onde implementou Ontologia Empresarial para implantação e avaliação do Modelo de Qualidade de Software Brasileiro (MPS.br) tornando-o acessível a PMEs, aliada a implementação da Ontologia criou uma metodologia para execução de Testes de Usabilidades em Ontologias Empresariais, que permite identificar ajustes necessários para o melhor entendimento e utilização das Ontologias.
Especialista em Desenvolvimento de Software para Web pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) fazendo uso de técnicas de Engenharia de Software para análise, documentação e implementação de software.
Tecnólogo em Processamento de Dados pela Associação Educacional Superior de Araçatuba (AESA).
Trabalhou em diversas áreas da computação: análise, desenvolvimento, testes, implantação, suporte pós implantação, treinamento, gerenciamento de equipes de desenvolvimento e teste de software, gerenciamento de projetos de software e gerenciamento do projeto de implementação do Modelo de Qualidade de Software Brasileiro (MPS.BR) em pequenas empresas. Atuou durante 16 anos analisando e desenvolvendo software para automação de emissoras de rádio e TV. Experiência em diversas linguagens de programação, dentre elas: C++, C#, VB6, VB .NET, Cobol, Delphi, Java e Fortran. Conhecimento em diversos Sistemas Gerenciadores de Banco de Dados (SGBD), dentre eles: MySQL, PostGress, Oracle, SQLServer, Firebird e SQLLite, além de aplicativos para gerenciá-los.
Professor substituto na UNESP (Rio Claro) ministrando diversas disciplinas durante 10 semestres. Professor substituto no IFSP (Piracicaba) por 2 anos. professor na FATECE desde Fev/2021 e coordenador e professor na FAMEESP desde Nov/2021.
Participou de vários eventos discutindo temas relacionados a Modelo de Qualidade de Software e Teste de Software.