Deslizamentos de barreiras em Olinda continuam matando. Falta de drenagem, desinformação e obras inacabadas expõem moradores a riscos evitáveis. Em entrevista, especialistas e vítimas cobram ação do poder público
As ladeiras históricas e o carnaval vibrante ainda fazem parte do imaginário popular quando se fala em Olinda, cidade irmã da capital pernambucana.
Mas, para quem vive nos altos e encostas da região, o cenário de festa tem sido substituído pelo medo – especialmente no período de chuvas, que nos últimos anos têm trazido consigo o risco constante de deslizamentos de barreiras.
A falta de um projeto de drenagem e concretização da área de risco por parte do poder público acaba sendo o fator principal dos deslizamentos, uma tragédia anunciada.
Mortes por deslizamento
Em fevereiro de 2023, um jovem de 19 anos morreu soterrado no bairro Águas Compridas após o deslizamento de uma barreira.
Israel Campelo dos Santos estava dormindo quando foi soterrado dentro de casa. O deslizamento atingiu também outra residência e além dele – vítima fatal –, outras cinco pessoas ficaram feridas. Os próprios moradores tentaram resgatar os soterrados, mas o corpo de Israel só foi encontrado após a chegada do Corpo de Bombeiros.
O pai da vítima relatou à época que desde que se mudou para o imóvel não recebeu visita de nenhuma autoridade ou órgão de fiscalização. “Vai fazer um mês que moramos lá e ninguém nos disse dos riscos. Ninguém foi lá nesse período ver a barreira ou alertar. Ninguém”, disse.
Israel foi enterrado um dia depois do deslizamento. Para o pai da vítima, a tragédia refletia o descaso da prefeitura de Olinda: “Infelizmente, o povo de Águas Compridas é esquecido pelas autoridades. Temos cinco vereadores que não representam o povo, além do prefeito. Quem termina perdendo é a população”, afirmou Antônio de Souza, que mora no bairro há 45 anos.
Em junho de 2022, um casal também teve sua vida ceifada após um deslizamento ocorrer no bairro do Córrego do Abacaxi. As vítimas eram Rosemary da Silva, 44, e Sérgio Pimentel, 54.
Após a morte de Israel a prefeitura de Olinda iniciou um projeto que visava a realização de drenagem nas barreiras e a colocação de geomantas, a barreira onde o rapaz morreu foi a segunda a receber esta reforma.
Mais barreiras esquecidas
Apenas duas áreas de risco receberam geomanta, uma na Rua 6 de Janeiro e outra no Córrego do Abacaxi. Outras barreiras ficaram esquecidas, é o caso da Barreira que liga a Rua Alto Nova Olinda com a Rua Nova Olinda, em Águas Compridas.
Moradores relatam que a administração esqueceu por completo a situação do bairro, “Já tem alguns anos que o prefeito Lupércio [Carlos do Nascimento] não coloca nem uma lona como paliativo para proteger as pessoas que moram embaixo da barreira”, denuncia Maria José, 63 anos, moradora da região, que preferiu não mostrar sua imagem.
Procurado pela reportagem, o geógrafo Manoel Gonçalves da Silva detalhou os fatores que provocam os deslizamentos. “Os deslizamentos de barreira em Pernambuco são um fenômeno comum, especialmente durante a estação chuvosa.
Estes eventos são causados pela saturação do solo, que perde sua coesão e desliza, levando consigo vegetação, construções e, muitas vezes, vidas”, explica.
Enquanto isso, com o céu nublado e as chuvas cada vez mais frequentes no litoral pernambucano, o medo continua sendo vizinho constante de quem vive sob as barreiras da negligência.
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