De todos os trabalhos feitos pela criança durante o período de educação infantil, os artísticos são os que mais rendem suspiros.
Comumente, são guardados para a posteridade. Os pais, orgulhosos, se derretem pelas criações dos pequenos — da pintura feita em cartolina com mãos e pés ao bonequinho um pouco torto produzido com argila.
Mas o papel da arte vai muito além do que simplesmente proporcionar à criança momentos de lazer.
Ela é fundamental para o bom desenvolvimento físico, social-cognitivo e afetivo das crianças, oferecendo recursos para que elas criem suas próprias maneiras de se expressar e compreendam o mundo que as cerca.
Com a arte, as crianças têm incentivo para que consigam ordenar e dar sentido à experiência humana desde o começo da vida.
A exposição de meninos e meninas à arte, especialmente na primeira infância, traz inúmeros benefícios.
A melhor parte é que, por tomarem a atividade artística como brincadeira, devido ao aspecto lúdico, a evolução se dá de forma natural e gradativa.
A arte como estimulante da evolução física e intelectual
No desenvolvimento físico, manifestações artísticas como a dança e o teatro rendem boa consciência corporal e aprimoramento motor, além de auxiliarem na noção espacial.
No caso da pintura, a coordenação motora fina vai evoluindo aos poucos, bem como a capacidade de distinguir e fazer escolhas de materiais, técnicas, texturas e formas.
Além dessa dimensão, os aspectos social e cognitivo chamam a atenção.
A arte é uma importante ferramenta para que a criança faça uma leitura da realidade e de si mesma. Por esse motivo, o contato com as mais diversas manifestações artísticas desenvolve características como senso crítico, sensibilidade e criatividade.
Como um poderoso trabalho educativo, o ensino da arte procura, por meio de inclinações individuais, amadurecer a formação do gosto pela arte, desenvolver a inteligência e contribuir para a personalidade em formação.
Essa inteligência desenvolvida ultrapassa os aspectos estéticos, englobando também os emocionais e até mesmo a inteligência racional, que é mensurada pelo teste de QI.
Contribuição para o desenvolvimento social e afetivo desde a infância
O papel da arte na infância tem destaque na evolução das habilidades sociais da criança.
Como grande parte das proposições de atividades artísticas acontece em grupo, os pequenos acabam ganhando capacidade para trabalhar coletivamente.
Como consequência, também aprendem a valorizar a diversidade e a respeitar as diferenças.
Isso porque a criança, em contato com as obras de vários artistas de correntes diversas, perceberá que não há uma maneira certa ou errada de pintar, de fazer uma colagem, de combinar notas musicais.
O que existe é um modo próprio.
Ao compreender que seu jeito de fazer algo é legal, a criança entende que o jeito do seu colega é diferente, mas tão legal quanto.
Há um grande avanço em inteligência emocional e social.
Os benefícios para o aspecto afetivo, aliás, são muitos.
Por meio da arte, os pequenos podem reconhecer, expressar e gerenciar seus sentimentos e impulsos.
É possível entender que as artes são linguagens diferenciadas que complementam a linguagem verbal.
Então, o que muitas vezes não consegue ser processado e comunicado pela criança pela fala vem à tona por meio da arte.
O teatro, por exemplo, é de grande auxílio para crianças com dificuldades de dialogar e interagir com outras pessoas por timidez e falta de autoconfiança.
A arte também é instrumento de avaliação de desenvolvimento
Por todos esses motivos, o papel da arte se amplia e vai até a função de avaliação de desenvolvimento da criança.
Esse é, aliás, um dos instrumentos mais potentes: se, em outros métodos, a criança consegue prever o que se espera dela e agir de acordo com a avaliação, na arte, por ser mais livre e estimular diferentes maneiras de olhar para a mesma coisa, as ações são bem sinceras e podem desvendar significados profundos.
Por meio da arte, é possível avaliar o grau de desenvolvimento mental dos pequenos, entender suas predisposições e sentimentos, inclusive suas queixas.
É possível ter pistas de como essa criança compreende a si mesma e sua realidade, perceber o quanto ela oferece de capacidade criadora e imaginação.
Potenciais problemas afetivos, de cognição e de habilidades motoras são facilmente percebidos.
Mesmo antes de aprender a ler e a escrever, uma criança naturalmente reage de forma positiva aos estímulos artísticos — é uma criadora em potencial.
Por isso, antes mesmo que se possa perceber alguma dificuldade em alfabetização, por exemplo, a arte fornece pistas para desafios na linguagem e mostra peculiaridades cognitivas, afetivas e relacionadas à capacidade física (visão, audição) daquele indivíduo.
A abordagem em relação à arte e a faixa etária das crianças
Percebemos, então, que o contato precoce com as artes é extremamente positivo. É preciso, porém, que a abordagem em relação à arte observe as peculiaridades da faixa etária e do grau de desenvolvimento da criança.
O pensamento, a capacidade imaginativa, a percepção, a habilidade intuitiva, a sensibilidade e a cognição devem ser trabalhados de forma integrada e interdisciplinar.
A colagem e a pintura, por exemplo, são duas das inúmeras formas de arte que se destacam como de grande ajuda para o trabalho com crianças de 0 a 4 anos de idade.
No processo da colagem, há a fase de coleta do material, em que a criança consegue identificar o que lhe é conhecido (objetos, animais, pessoas, elementos da natureza) e da composição, que envolve escolhas e necessariamente desenvolve a noção de espaço e proporção.
A pintura, nessa fase mais inicial, deve prezar mais aspectos sensoriais da criança do que os visuais, como a sensibilidade ao contato com a tinta e a textura.
É preferível, por exemplo, dispensar o uso dos pincéis nos primeiros trabalhos em prol de uma abordagem mais tátil e sensorial, usando mãos e pés.
A partir dos 4 anos, as crianças já são capazes de dar significado às informações recebidas e utilizá-las de forma mais consciente para se expressar.
Os artistas escolhidos para o ensino da pintura nessa fase devem ter compatibilidade com a realidade das crianças, facilitando a identificação.
Como cores e formas são fortes no repertório desses pequenos, Miró e Kandinsky, mais abstratos e com bom uso de cores, são boas opções para as pinceladas fortes.
Monet já atende a uma proposta mais voltada para elementos figurativos (flores) e pinceladas soltas.
E então, se convenceu da importância do papel da arte para o desenvolvimento das crianças?
Contribuindo em várias frentes para a evolução dos pequenos, as mais diversas manifestações artísticas devem ser trabalhadas não só na escola como ambiente formal, mas também dentro de casa, pela família.
Fonte: Novos Alunos