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Advogada Bianca Rocha de Araújo, especialista em direitos das mulheres, aparece em montagem fotográfica.
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O feminicídio é reflexo de uma sociedade ainda profundamente desigual – Jornalismo Metropolitana

Advogada especialista em direitos das mulheres, Bianca Rocha de Araújo analisa o avanço alarmante dos casos de feminicídio no Brasil e os desafios enfrentados na aplicação das leis de proteção.

Por: Geisa Inácio Reis
Edição: Jessica Ribeiro

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Em um país onde a cada sete horas uma mulher é assassinada por razões de gênero, o feminicídio tornou-se não apenas um problema de segurança pública, mas um sintoma cruel das raízes culturais do machismo e da desigualdade.

Para compreender a complexidade do tema e os caminhos possíveis para enfrentá-lo, conversamos com a advogada Bianca Rocha de Araújo, especialista em direitos das mulheres e atuante em casos de violência de gênero.

Advogada Bianca Rocha de Araújo, especialista em direitos das mulheres, aparece em montagem fotográfica.
Advogada Bianca Rocha de Araújo, especialista em direitos das mulheres, aparece em montagem fotográfica.

“O aumento dos casos de feminicídio se deve ao machismo estrutural, à desigualdade de gênero e às falhas nas políticas públicas de proteção”, afirma, categoricamente a jurista.

Para ela, o problema é sistêmico e exige mudanças urgentes na legislação e na forma como a sociedade responde à violência contra a mulher. “É necessário ampliar punições, garantir proteção eficaz e fortalecer a educação para a igualdade de gênero”, defende, ao tratar de reformas legislativas capazes de oferecer respostas mais contundentes à escalada da violência.

Marcadas pela violência

O impacto do feminicídio não se restringe às vítimas diretas.

As consequências emocionais e sociais se alastram como ondas, atingindo famílias inteiras especialmente crianças. “Causa traumas emocionais, dificuldades financeiras e destrói vínculos familiares”, relata.

Nas entrelinhas, está a dor silenciosa das mães, filhas, irmãs e, sobretudo, das crianças que crescem marcadas por uma violência que ainda encontra espaço para se repetir.

Segundo a especialista, os sinais de alerta estão muitas vezes presentes, mas nem sempre são levados a sério.

Para a advogada, “a violência crescente, ameaças, controle excessivo e isolamento da vítima” devem ser reconhecidos como indicadores claros de risco iminente.

Esses sintomas, quando ignorados, podem evoluir para agressões fatais. “As principais causas do feminicídio são ciúmes, rejeição, sentimentos de posse e machismo”, enumera. Fatores que se sustentam em uma cultura patriarcal que ensina homens a confundirem amor com domínio.

Questionada sobre por que tantos agressores não aceitam o “não” e partem para a violência, a resposta é direta: “Por machismo e sensação de perda de controle sobre a mulher.” É uma lógica de posse que transforma a autonomia feminina em ameaça.

E o impacto disso na autoestima das mulheres é devastador. “Reduz a segurança, a confiança e a sensação de liberdade”, explica. A consequência mais cruel é a limitação da vida cotidiana pela simples busca de sobrevivência.

Proteção da Lei e acolhimento

Embora existam marcos legais importantes no combate à violência de gênero como a Lei Maria da Penha (11.340/2006) e a Lei do Feminicídio (13.104/2015) a efetividade dessas normas ainda enfrenta entraves. “A Lei Maria da Penha nem sempre funciona devido à demora, fiscalização insuficiente e negligência na ampliação”, denuncia.

O problema não está apenas na formalidade da lei, mas na sua aplicação no cotidiano das mulheres que pedem socorro e não são ouvidas a tempo. “Os desafios na implementação de políticas contra o feminicídio envolvem falta de recursos, fiscalização ineficaz e resistência cultural”, pontua.

A advogada também defende um papel mais ativo da sociedade na oferta de apoio psicológico às vítimas e sobreviventes. “É preciso criar centros de acolhimento, redes de apoio e campanhas de conscientização.”

O sofrimento psicológico das sobreviventes, como destaca Bianca, pode se desdobrar em quadros graves. “Elas enfrentam transtornos como ansiedade, depressão e medo constante”, alerta.

Por fim, ela chama atenção para a responsabilidade da mídia na forma como o tema é abordado. “A mídia influencia ao educar, evitar justificativas para a violência e promover a responsabilidade do agressor”, afirma.

A escolha das palavras, a exposição da vítima e o foco nos motivos do agressor são, segundo ela, pontos que merecem mais atenção na cobertura jornalística.

Em meio a estatísticas alarmantes, a advogada reforça a necessidade de ações coordenadas entre poder público, sociedade civil e instituições de ensino para transformar o cenário.

Sua análise deixa claro que, apesar dos avanços legais, ainda há muito a ser feito e que a mudança começa por reconhecer que a violência contra a mulher é responsabilidade de todos.

Geisa Inácio Reis

Estudante de Jornalismo da Faculdade Metropolitana (FAMEESP).

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